Éramos jovens demais para entender que na série "The OC" o paraíso do Ryan (interpretado pelo ator Ben McKenzie) e do Seth (interpretado pelo ator Adam Brody) não era a Califórnia. Rubem Alves, um educador brasileiro, disse que “é preciso ter o paraíso dentro para ver o paraíso fora”. O vínculo entre os protagonistas sempre foi o verdadeiro paraíso de toda essa história. Era preservando seu mundo particular que ambos sabiam como olhar para qualquer lugar ou situação sem que nada externo fosse capaz de defini-los. Ryan e Seth tinham em si o paraíso por serem quem são e a partir daí podiam fazer de qualquer ambiente seu próprio éden. Ainda que imperfeito e confuso, era um refúgio só deles.
Para ter um futuro diferente do seu passado, Ryan precisa aprender a lidar com uma realidade oposta ao seu contexto pobre de quando morava em Chino, no condado de San Bernardino (Califórnia). Em “The OC” somos apresentados ao contraste financeiro e cultural de dois lados de um mesmo universo. Ryan aceita a nova vida com a consciência de quem sabe a sorte de encontrar laços reais e instáveis com os quais é possível contar. Além de recomeçar sua história sendo parte de uma família que pela primeira vez cuidará dele, também descobre como o amor muda a rota de nossas estradas e remonta a linha do nosso caminho.
Com um enredo ousado para a década de 2000, “The OC” foi uma série que confrontou sem medo a hipocrisia amarga de um discurso falsamente doce da sua época. Seth Cohen, um adolscente nerd, fã de histórias em quadrinhos e filmes, sempre era alvo de bullying e comentários racistas por ter origem judaica, mas nunca se deixou contaminar pela toxicidade de uma elite alienada e soberba. Foi com Ryan que ele abandonou suas inseguranças e saiu da sua caverna solitária, silenciosa e pacata. Entre tantas séries retratando a relação de irmãos, foi em “The OC” que o debate sobre o conceito de família biológica ou escolhida ganhou tempo de tela com a sensibilidade que o tema merece.
As aventuras dos protagonistas passam por todas as áreas da vida: romance, família, carreira, saúde mental e muito mais. Assistir o desenrolar romântico do Ryan se apaixonando por Marissa Cooper interpretada pela atriz Mischa Barton) e Seth amando Summers Roberts interpretada pela atriz Rachel Bilson), ambas herdeiras de nomes famosos da classe alta de Newport Beach, é um misto constante de drama e comédia. Com narrativa inteligente e contada sem brecha inadequada ou peça faltando, “The OC” transita por todos os tipos de temas sem perder o controle do volante e levando cada personagem para o futuro tão desejado ou temido. Nem sempre é fácil encarar as curvas, mas Ryan e Seth amenizam o peso dessa dupla jornada com a parceria que literalmente melhora a viagem de todos: a dos personagens e a nossa.
Uma geração que acordava às 10h de um domingo para assistir um estranho no seu paraíso. Foi muito bom viver aquelas manhãs! “The OC” era nosso éden prometido de todos os finais de semana. Durante 40 minutos, a nossa única pretensão era aproveitar nosso momento assistindo Ryan e Seth desbravando a vida na Califórnia. No fundo, mesmo com nossas realidades diferentes em tantos sentidos, ainda compartilhamos aquele mesmo desejo de chegar ao nosso verdadeiro lugar. O destino será sempre um depois, o presente é nosso único caminho real e palpável. Então vamos aproveitar o trajeto antes que ele acabe e não seja mais possível seguir. Viva seu paraíso hoje, aqui e agora!