Foto: @cida.aquecida

Sou rua que você não mereceu ficar. Nunca fui um endereço fácil, pois nunca quis ser tão facilmente ocupada. Não pense que já me conhece, sou um CEP difícil de ser decorado ou aprendido. Nada é mais certo do quê as incertezas que estão mapeadas em mim. 

Eu nunca fui de ter medo do imprevisível, a vida não é para ser assertiva, é para ser sentida. Não preciso que alguém construa casas em mim, para eu me tornar um terreno completo. Sou parte única do meu próprio todo. Me deixo ser ocupada apenas por quem não sufoca o meu espaço. 

Não me diminuo para caber no mapa de ninguém. Se onde estou não posso ser quem sou, ultrapasso qualquer fronteira e me deixo ser território livre em outra região. Não sou de nenhum lugar, nem pertenço à ninguém, sou eu a minha única proprietária. 

Já fui para tão longe de mim, que só agora estou voltando para quem sou. Me reencontrar de novo não foi fácil, nunca é, nunca será. Mesmo sendo eu, a área que conheço melhor, não estou livre da possibilidade de me perder em mim mesma. Mas quando me encontro, reconstruo minhas paredes e chego na minha melhor versão. 

Não importa para qual endereço vou, de mim, eu nunca saio e nunca me deixo. Eu existo mesmo que inacabada, pois o ser pronto sempre exige um fim, e enquanto posso, prefiro me servir de recomeços.